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ATO PROVISÓRIO

 

Espetáculo inédito, em fase de captação, que propõe uma livre adaptação sobre a obra 'Decálogo' (1988) do diretor de cinema polonês Krzysztof Kieslowski. Nos dez episódios escritos para TV, questões sobre amor, culpa, solidão, amizade, tristeza e medo colocam em xeque o sentido da condição humana. Assistimos ao conflito ético cotidiano de uma sociedade, em sua maioria cristã, sendo atravessada pelo acaso, pelas questões contemporâneas ou simplesmente pela própria complexidade das relações humanas.

 

Um pai e professor universitário, dividido entre a crença científica e a fé religiosa; uma mulher que engravida de seu amante e resolve abortar; o encontro entre uma pesquisadora judia com sua ex-professora universitária que, há 45 anos, negara-lhe ajuda durante a 2ª Guerra Mundial; uma mulher que se envolve com um jovem amante após descobrir a impotência sexual de seu marido. Tais sinopses, entre outras que completam o Decálogo, são atualizadas a partir do que já se configura a crise de valores do século XXI ou a era das relações líquidas de Bauman.

 

Assim, a encenação é guiada pelo caráter volátil e instável das “certezas” da vida: um cenário minimalista trabalha com transparências e suportes para video-mapping. Os atores se relacionam com lugares e objetos que existem e não existem ao mesmo tempo; são cenas vaporosas onde o real e o virtual potencializam o cerne ético-filosófico de cada narrativa que se apresenta, e que logo se esvai, dando lugar à próxima.

 

A principal questão no estudo da Ética é que sua formulação deve ser constante, sempre contextualizada e atualizada. Não podemos ignorar, porém, que nossa história e formação social foram pautadas por leis cristãs, o que nos leva rapidamente aos 10 mandamentos: um texto datado de 6 mil anos, que foi retirado de seu contexto e transformado em frases curtas e simplórias. Temos assim, as leis mais inquestionáveis e, ao mesmo tempo, mais desobedecidas impregnadas no homem. Elas servem à manutenção da culpa e do medo, reguladores da ideia de livre-arbítrio.

 

O diretor polonês Kieslowski, ao criar em “Decálogo” (1988) narrativas que evocam questões éticas ligadas aos mandamentos cristãos, expõe a fragilidade de uma sociedade que sente, o tempo todo, que há algo de errado na maneira como se vive. Quase 20 anos depois, compartilhamos a sensação ainda mais complexa, sendo denominados pelo sociólogo, também polonês, Zygmunt Bauman como “uma sociedade líquida, onde nada é para durar”.

 

"Ato provisório" é, portanto, um espetáculo que deseja trazer à cena a provocação ética de cada uma das narrativas do 'Decálogo' com o objetivo de atualizar as discussões no âmbito sensível e artístico, a partir de diálogos e circunstâncias que suscitam a nossa relação com o certo e errado. A partir de um cenário que é preenchido e esvaziado por dispositivos tecnológicos que simulam o real, incluímos ainda a máquina e o virtual como componentes indispensáveis ao entendimento do indivíduo líquido contemporâneo.

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